Logo depois dessa faina de coleta, trocamos de bote e partimos para re-visitar a enseada Ezcurra, dessa vez com o objetivo de entrar o máximo possível até a calota de gelo no fundo da baia. Na Pilotagem Santos, Rosinha e Priscila nas coletas, e eu de proeiro. Ao contrário da última vez, o "lugar mais lindo do mundo" estava completamente aberto e sem gelo.
[ Mosaico de Monsimet Cove e passando a rede no baixio entre a cachoeira e a praia. Foto by Rosinha ]
O local era um baixio, com água pela cintura, uma linda cachoeira de degelo ao fundo e várias aves marinhas (gaivotões e sternas) se alimentando. Logo ao chegar nos assustamos com um fundo raso com pedras enormes, e algo me chamou a atenção: pequenos pontos brancos sobre uma pedra e umas conchas no fundo. Com um pouco mais de atenção, percebemos vários briozoários (animais microscópicos que formam as manchas na foto abaixo), e um pequeno caramujo bem parecido com a litorina que temos no Brasil.
Depois de mais de duas horas de amostragem, começamos a retornar para Ferraz, com o tempo já ficando um pouco alterado. Na chegada, só deu tempo de largar as coisas e comer algo, mais uma amostragem no meio da baia estava prevista e tivemos um pequeno e rápido encontro com uma foca leopardo sobre uma placa de gelo (dessa vez, os 3 tripulantes cabeça-de-vento esqueceram as máquinas), e graças a Deus, parecia que ela estava de barriga cheia e não nos incomodou. A noite veio rápido e o tempo práticamente fechou. Ventos fortes de leste começaram a soprar na baia e rapidamente pequenas ondas se formaram. E o Senhor do Tempo (meteorológico) despejou neve e rajadas sobre nós.
Acabei indo dormir por volta de 01:30 hs depois de processar todo o material do dia, já sabendo que teria que acordar as 04hs da madrugada para guarnecer o posto de proeiro da coleta da Priscila, mesmo que ela não ocorresse por causa do tempo.
Então....o dia 8 de janeiro veio com toda a ira do Senhor do Tempo. Passei praticamente das 4hs até o café as 07 hs na sala de estar, conversando e comendo, e vendo as ondas de mais de 1 metro baterem com força nas chatas de água e óleo ancoradas na praia. Segundo a meteorologia, os ventos chegaram a mais de 100 km/h no meio da manhã. Com esse tempo, os lugares mais concorridos da estação foram a cozinha e os camarotes. Quando não se dorme, come-se muito.
Por volta do meio-dia, encaramos (Geraldo, o Alpinista, e eu) esse vento de lado para medir as ondas em Punta Plaza. Pode parecer frio, mas na verdade, com o ritmo de caminhada e as várias camadas de roupas, voltamos encharcados de suor.
E assim o dia foi passando, com várias sessões de ataque a geladeira, chás quentes e conversas. O único highlight da tarde foi uma ida minha ao fundeio da Priscila, na tentativa de resgatar o que sobrou de uma das bóias. O mal tempo destruiu parte da estrutura e jogou uma das bóias na praia. Pensei que pudesse retirar tudo da água mas as ondas estavam realmente fortes e altas. Com água pela cintura, consegui laçar a bóia que sobrou quando de repente uma parede de água um pouco maior que a minha cabeça simplesmente entrou pela praia. Foi literalmente uma "vaca antártica" rsrsrs e imediatamente lembrei do Cod Maverick, o pinguim surfista do filme "tá dando onda". Ai se eu tivesse uma prancha rsrsrs. Brincadeiras a parte, o banho foi fenomenal, e muita água (mas muita MESMO) entrou no sapão ! meio geladinha, né ?!
Desistimos de tirar o fundeio pelas condições do tempo e voltamos para a estação para que eu me secasse. Pelo menos valeu por ter ganho uma boa tassa de chocolate quente da Rosa. E então o resto do meu dia foi de descanso. Merecido ! e agora vou dormir pois as 4 da manhã estou de guarnição novamente no posto de proeiro para uma nova coleta.
Boa noite antártica a todos.
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